// Crônica publicada no jornal Folha de Tiête, interior de São Paulo em algum dia de 2008. Foto de origem desconhecida (internet).
O arquiteto Oscar Niemeyer esteve exilado na Europa entre de 1966 e início
dos 80. Estes 15 anos provavelmente foram com muitas andanças pelo velho
continente num período de alta efervescência e vanguarda na região.
Para o arquiteto o recém trabalho entregue de Brasília, cujo o consagrou internacionalmente, conflitava na sua cabeça com sua vertente comunista e idealista que o forçava sair do país pela ignorância da ditadura.
Para o arquiteto o recém trabalho entregue de Brasília, cujo o consagrou internacionalmente, conflitava na sua cabeça com sua vertente comunista e idealista que o forçava sair do país pela ignorância da ditadura.
Tento entender a mistura de política e a arte arquitetura com o que Niemeyer passou. O pensamento de um mestre zen talvez traduza um pouco: “Quando eu digo que este mundo é muito belo, mas ele está em mãos erradas, eu não quero dizer para você começar a lutar contra aquelas mãos erradas.
O que eu quero dizer é: Por favor, não seja aquelas mãos erradas!”. Niemeyer tem esta essência, observe sua trajetória.
Muitos anos depois, em 2009, fui visitar um escritório de arquitetura em Doha, no Catar, o Diwan Al-Emara Architects. Quem me recebeu foi Tarik Aljeda, um iraquiano de aparência tranqüila e com muita energia já nos seus 90 e tantos anos de vida.
Engana-se quem acredita que os expatriados iraquianos no mundo árabe são os mais agressivos, ao contrário, possuem fama de pessoas confiáveis, quietas e inteligentes com forte personalidade.
Era o caso do arquiteto. Na parede da sala de reuniões, as fotos de obras grandiosas no golfo, mostrava suas credenciais de projetos de alto nível. A que mais me chamou a atenção era o edifício em Doha, o Al-Hitmi. Ângulos e balanços ousados, gostei.
A reunião corria com naturalidade e como toda reunião chegou aquele momento das amenidades. Perguntei sobre como era um iraquiano trabalhar no Catar e ele respondeu com tom amistoso: “Aqui estou bem, mas eles estão destruindo o meu país...”.
As entrelinhas queria dizer algo mais: “Quando se fala de Iraque já se pensa em guerra e destruição, este é o estigma, estou aqui, em paz, mas meu coração está lá... onde estão acabando com tudo.”.
No desenrolar da agradável conversa chega o momento de falar do Brasil. “E como anda o Niemeyer?”, pergunta Tarik . Respondi, naturalmente com muito orgulho, que ele havia passado dos 100 anos e continuava traçando curvas e tudo mais. “Conheci Niemeyer em Londres, na década de 70”, completou Tarik com um ar de saudade do velho amigo. “Sua suavidade ao falar encantava. Grande homem e amigo o arquiteto das curvas...”, concluiu.
Foi bom conhecer o iraquiano Tarik e ser brasileiro como Niemeyer, compartilho com vocês nestas palavras a experiência.
O mundo é belo por que existem pessoas belas como eles, que mesmo ao longo dos anos de momentos difíceis, são seres que se sincronizam entre si e produzem um mundo melhor, longe das boçalidades de mãos erradas.
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