quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Como fui lá De Marrakesh

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// Crônica publicada no jornal Folha de Tiête, interior de São Paulo em algum dia de 2008. Foto Trip Advisor.

É verdade, não fui pra lá de Marrakesh, fui lá em Marrakesh, no Marrocos. Corrijo a preposição do título e segue breve nota explicativa. Em Tietê estaria correto o “lá de...”. Quando um amigo chama outro para ir em algum lugar ele diz: “João Barriga, você vai lá de Renato hoje à noite? ”.

Tradução para os não-tietenses. “João Barriga, você vai na casa do Renato hoje à noite? Vai ter festa”. Meu amigo Arnaldo Boca, ascendente de intelectuais portugueses de Braga e estudioso contumaz de línguas escandinavas, latinas e eslavas, poderia esclarecer melhor a origem desta junção de preposição e advérbio de lugar. 

Meu palpite é que vem da linguagem popular dos caboclos daquela região lá do Gavetão. Depois foi disseminada por Cornélio Pires para os urbanos.

Enfim, vou contar como fui para Marrakesh. Era novembro de 2007 e participávamos de uma feira de construção em Paris. Tivemos a idéia de colocar música brasileira no final das tardes nos 4 dias de evento. 

Chineses, ingleses, árabes e de muitas outras nacionalidades se rendiam ao som de Garota de Ipanema e outros clássicos de nossa rica música. Em um dos dias um casal de franceses até parou para tirar fotos e filmar o famoso passe “no sapatinho” executado por um brasileiro mais desinibido, aliás os franceses adoram nosso estilo descolado.


No último dia de feira, já no final da tarde. Todos cansados e já relaxados, aconteceu o acaso. Fui chamado para atender um casal. Ela uma indiana com suas típicas vestimentas, ele um marroquino estilo pop-star, de chapéu. 

Miss Priti Paul e Mr. Jaouad Kadiri se apresentaram e pedi para acomodarem-se. Começamos a conversa e eles comentaram que foram atraídos pela música e estavam procurando alguns materiais especiais para a construção de seu hotel no Marrocos. 

Perguntei se tinham visto algo interessante na feira  e disseram que não. Apenas nosso imponente e alegre estande lhes chamou a atenção e disseram que precisavam de mais ou menos 100 mil metros quadrados de piso de madeira. 

Não consegui segurar meu riso e perguntei: “Tem certeza da quantidade? Não seria em pés quadrados?” Eles confirmaram, metros quadrados mesmo e seria para a construção do seu próprio resort em Marrakesh de nome Mandarin Oriental Hotel. 

A quantidade era para ser consumida em dois ou três anos até a conclusão do interior do hotel e suas as 68 villas (casas de veraneio) ao redor do hotel. Para o primeiro ano seria preciso de 20 mil metros quadrados para a área social. 

“Gostou de alguma madeira?”, perguntei para Miss Paul. Ela: “Ipê...”. Concluí: “Leve este vídeo da empresa e conheça melhor o que fabricamos no Brasil”. 

Comentei com Miss Paul que ela tinha os traços de minha esposa (mostrei a foto de Silvana) e que nosso sonho era mesmo conhecer a Índia. Também falei do meu interesse por meditação e pelas palavras do líder espiritual Rajneesh. 

Ela se encantou pelo meu interesse por assuntos relacionados com a Índia e disse que brevemente manteríamos contato. Não acreditei.


Trocamos cartões e no hotel entrei na página da empresa indiana Epeejay Group, um dos conglomerados mais poderosos da Índia. O grupo formado por bancos e construtoras agregavam a maior fábrica de chá do país.

 Miss Paul era membro da família controladora, filha do patriarca.Voltando para o Brasil enviei um email como lembrança. A resposta veio um mês depois, quando estava em Montreal, no Canadá, um email de Miss Paul dizia: “Você pode nos visitar lá de Marrakesh?”. 

Algum tempo depois estava, lá de Marrakesh no Marrocos com Miss Paul e Mr. Kadiri para concluir a negociação. Acasos da vida.

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