// Crônica publicada no jornal Folha de Tiête, interior de São Paulo em algum dia de 2008. Charge NYT, Andrea Kalfas
Normalmente ligamos a religião islâmica pelas restrições e leis
severas impostas ao seus povos e
seguidores. Logo relacionamos isso ao papel subserviente da mulher nessa cultura
e ao extremismo retratado no terrorismo que, em momentos de globalização, gera
uma tensão em que o inimigo são os árabes e os bonzinhos são os americanos, a
polícia do mundo. Seguimos insistindo em querer achar estereótipos para tudo e
todos, principalmente por que formamos nossa opinião pelo que vemos na mídia
internacional.
Existe um outro lado que
quero mostrar. A religião islâmica conta com mais de 1 bilhão de seguidores ao
redor do mundo contando com suas vertentes que vão da mínima parcela de
extremistas, reduto de terroristas, até
os mais moderados fiéis, como os países do Golfo, cujo comportamento está mais
adequado ao mundo moderno. Traçando um paralelo com o Brasil seria o mesmo que
dizer que vivemos todos como nas favelas do Rio de Janeiro em dia de guerra do
tráfico, digo em dia de guerra, por que normalmente milhares destes habitantes
são trabalhadores humildes que fazem churrasco e vão ao zoológico dar pipoca
aos macacos aos domingos.
Olhando pelo lado do
desenvolvimento da humanidade através da história, não podemos esquecer que os
muçulmanos foram grandes astrônomos e responsáveis por muitos conceitos
matemáticos como a álgebra, por exemplo.
Em seus rituais diários há séculos rezam cinco vezes ao dia virado para
Meca (Arábia Saudita), o que prova um senso de direção natural. É sabido também
que sua aptidão para o comércio está encravada na sua alma, assim como para os
judeus, culturas ideologicamente opostas com comportamentos parecidos. Para se ter uma idéia, um dos quesitos para
conseguir visto para Dubai é que não tenha em seu passaporte nenhuma passagem
por Israel.
É interessante notar que a
astronomia sempre esteve ligada à religião. Nossa instituição católica condenou
Galileu por afirmar, e provar, que a terra, de forma arredondada, se movia em
um sistema heliocêntrico (ao redor do sol). E como dizia Galileu Galilei da
Galiléia, malandro que é malandro não “bobéia”... Não teve jeito neste caso,
ele foi condenado ao martírio pela igreja. Curioso é que a terra já era
considerada de forma arredondada pelos egípcios há mais 3 mil anos. A
comprovação do que já sabiam há milênios está na mais óbvia observação que
podemos ter todos os dias. Basta olhar para a lua e suas fases e reparar que
ela reflete a sombra da terra em sua
superfície. Então, como ela poderia ser quadrada?
Esta semana me senti como
na época de Galileu. Entrei em um grande "bookstore" aqui em Doha no Catar e me encantei a
princípio com a quantidade de publicações. Em seguida perguntei ao atendente,
que normalmente é filipino ou indiano, neste caso me atendeu um filipino muito
simpático, onde ficava a seção de espiritualidade. Buscava algo de budismo e
meditação. A resposta foi que não havia nada em filosofia, religião ou
espiritualidade além dos livros sobre o islã. Enfim, nada é perfeito. No momento meu senso crítico não me deixou de
fazer alguns questionamentos em voz alta. Por que eles são tão restritos à
liberdade de expressão e tão abertos ao culto aos símbolos dos deuses
astronautas modernos? Sabe quais são?
Louis Vuitton, Rolex, BMW, Cartier, Mercedez...
Minha conclusão é que,
seja o fanatismo moderno pelo consumo, que é alimentada para um preenchimento
sem fim do ego (a maior doença da humanidade), seja o fanatismo religioso que
cria e recria regras absurdas e motivos até para matar, ambos caminhos estão
equivocados por que nos cegam da realidade, e não nos permite ver coisas tão
claras diante de nossos olhos como a sombra da terra na lua. O pior é que tem
gente que ainda acha que a terra é plana. O que vamos fazer! Sugiro a
meditação.
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